
Durante o ano de 2004 decorreu a terceira campanha de escavações. Infelizmente para mim, foi o ano em que por motivos profissionais acompanhei apenas parcialmente os trabalhos, sendo impossível desta vez a elaboração de um registo na primeira pessoa sobre o que se passou.
Resumo do Relatório de Progresso
“O presente Relatório de Progresso enquadra-se no âmbito da III.ª Campanha de Escavações, realizada no Castelo de Alcobaça, entre 19 e 31 de Julho de 2004.
Esta campanha contou, mais uma vez, com o apoio material e financeiro da Câmara Municipal de Alcobaça e com o imprescindível apoio de uma equipa de voluntários, constituída por estudantes de arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, estudantes do ensino secundário e de outros voluntários de Alcobaça. Este trabalho de voluntariado consistiu na escavação e no registo gráfico e topográfico.
A intervenção, efectuada este ano no Castelo, excedeu, mais uma vez, todas as expectativas, não só relativamente à quantidade/importância histórico-científica da cultura material exumada, como também relativamente às estruturas colocadas a descoberto. (…)
Nesta III.ª Campanha, foi retomada a escavação da sondagem aberta no Compartimento – I e a escavação do Compartimento – IV e deu-se início à escavação da Torre de Menagem e de uma nova área, contígua ao Compartimento – III. Os trabalhos de escavação desta III.ª Campanha, à semelhança do que se verificou nas campanhas anteriores, incidiram, exclusivamente, sobre o Sector – A (interior do Castelo). (…)
No Compartimento – IV, foi retomada a escavação iniciada na campanha anterior, definindo-se, agora, com maior rigor, os limites do mesmo. A escavação deste compartimento permitiu identificar mais um espaço de habitação, encostado ao alçado interno do castelo, virado a Noroeste. A partir do canto Sudoeste do castelo, onde se deu início a este projecto, em 2002, e no qual se identificou o Compartimento – I, tem sido alargada, sucessivamente, a área de intervenção, circundando sempre a cisterna. Com a escavação do Compartimento – IV, em 2004, foi conseguida, finalmente, uma leitura estratigráfica, em toda a largura do castelo. Seguindo a metodologia adoptada na escavação dos restantes compartimentos, com excepção da sondagem aberta no Compartimento – I, que segue outros objectivos, procedeu-se apenas à remoção dos níveis estratigráficos associados ao terramoto de 1755. (…)
Finalizada a escavação do Compartimento – IV, deslocou-se a equipa para a Torre de Menagem e definiu-se uma área contígua ao Compartimento – III, uma sondagem com
Ao fundo da Torre de Menagem, foi marcada uma sondagem de 4x4 m, que abrangeu cerca de metade da mesma, antecedida, naturalmente, pelo habitual registo fotográfico. Após este registo, procedeu-se, de imediato, à decapagem da cobertura vegetal existente, à remoção de algumas pedras de grandes dimensões, porventura deixadas no local, aquando da desmontagem do castelo, entre 1838 e 1855, e não aproveitadas na reconstrução parcial do castelo, ocorrida em 1956 (…)
Tinha surgido, assim, a oportunidade de confirmar o manuscrito de Frei Manuel de Figueiredo, quando refere que esta fora cárcere, até ao terramoto de
O material arqueológico foi individualizado por compartimentos, de acordo com as unidades estratigráficas em que era recolhido. Devido à grande abundância de material, estes foram, ainda, individualizados de acordo a sua natureza (cerâmica vidrada, cerâmica comum, faiança, bronze, ferro, vidro, fauna, etc.).
Todos os compartimentos identificados até à data têm-se revelado espaços estanques, de contextos arqueológicos perfeitamente selados, em relação à restante área do Castelo. (…)
Terminados os trabalhos arqueológicos, procedeu-se à cobertura de todas as áreas intervencionadas, com geotextil e terra, no intuito de evitar a degradação das estruturas e salvaguardar o local contra possíveis actos de vandalismo e saque, à semelhança do que tem sido feito, em todos os finais de campanha. (…)
Junto destas vigas, foi identificada uma estrutura circular, escavada no afloramento, com cerca de
Associada a este nível de incêndio, foi identificada uma lareira, praticamente encostada ao muro que separa este compartimento do Compartimento – III, constituída por uma fossa, com laje quadrangular ao centro, e uma coroa, formada por grés rubefactos, de pequena e média dimensão. No interior, continha uma terra arenosa, castanho escura, nódulos de carvão e fragmentos de telha.
As lareiras, identificadas no interior dos compartimentos escavados, seriam utilizadas, não só para cozinhar, como também para aquecimentos dos mesmos, pois a região de Alcobaça, sendo muito húmida e fria, obrigaria a que as habitações necessitassem de aquecimento constante.
O espólio exumado durante a presente campanha, nesta sondagem, cronologicamente anterior ao séc. XVIII, é bastante reduzido, pois apenas se recolheram escassos fragmentos de cerâmica comum, estando totalmente ausentes as faianças, porcelanas e vidrados, característicos dos níveis estratigráficos superiores, recolhidos nos derrubes associados ao terramoto de 1755.
O material arqueológico, incaracterístico, não nos permite definir, com segurança, uma cronologia para este nível de incêndio. Contudo, a julgar pelo material recolhido na campanha anterior, datável dos sécs. XVI/XVII, entre os quais se destacam as formas com decoração modelada e bordos recortados e ônfalos, propomos que o nível de incêndio e respectiva lareira associada datar-se-ão, possivelmente, dos sécs. XIV/XV. O tratamento de material, previsto para a próxima campanha, poderá ser determinante para aferir melhor a cronologia desta realidade, pois será analisado, ao pormenor, todo o espólio aqui recolhido.
O Compartimento – IV, identificado já na campanha anterior, no qual foi feita apenas uma decapagem superficial, apresenta planta rectangular e uma área interna de
O material arqueológico, recolhido neste compartimento, mais uma vez em grande quantidade (cerâmica comum, vidrada, faiança e porcelana), corresponde aos níveis de derrube associados ao terramoto de 1755, identificados nos restantes compartimentos escavados.
Torre de Menagem
Na Torre de Menagem, foi aberta uma sondagem de
O material arqueológico, bastante diversificado e recolhido, mais uma vez, em grande quantidade, do qual se destacam, fundamentalmente, as moedas, mas também algumas formas inteiras, tais como, pucarinhos, malgas, tigelas e testos, correspondem aos níveis de derrube, característicos do terramoto de 1755. Nos níveis estratigráficos imediatamente abaixo destes derrubes, recolheu-se, também, espólio associado aos sécs. XVI/XVII.
A escassez de materiais de maior qualidade, como as faianças e porcelanas, datáveis do séc. XVIII, leva-nos a validar, arqueologicamente, o manuscrito de Frei Manuel de Figueiredo (1780, p. 225 e seg.), quando refere que a Torre de Menagem terá funcionado como prisão, pelo menos a partir do séc. XVI. Estes materiais, alguns dos quais importados do oriente, estariam, maioritariamente, nos compartimentos associados aos aposentos do Alcaide e não, naturalmente, à cárcere do castelo.
Estratigrafia Identificada
Cultura Material Exumada
Faiança
A malga vidrada tem um bordo com um diâmetro de
Porcelana
Cachimbo
Instrumento Musical
Ocarina em cerâmica comum
Também na Torre de Menagem, foi encontrado um fragmento do bocal de uma ocarina, em cerâmica comum, com
Malhas de Jogo
Metal
Na Torre de Menagem, recolheram-se, também, 12 alfinetes em bronze, com hastes de secção circular, com comprimentos que variam entre os 3 e os
No Compartimento – IV, foi encontrado um anel, em prata, que se caracteriza por um aro com
Os pregos e cavilhas, recolhidos em menor quantidade (65) que no ano anterior (312), exceptuando uma tacha, em bronze, recolhida no Compartimento – IV, são exclusivamente em ferro, apresentando-se bastante oxidados e, por vezes, em avançado estado de degradação. Contudo, alguns exemplares conservam-se inteiros, embora, por vezes, contorcidos. As cabeças são rectangulares, quadrangulares e circulares, algumas achatadas, circulares e ovais, planas e ligeiramente cónicas com achatamento, e secção rectangular. As hastes apresentam secção quadrada e circular, atingindo os maiores um comprimento de
Dedais em bronze
Por fim, resta referir a recolha de diversos fragmentos de arame em bronze, de quatro fragmentos de escória de chumbo e de vários elementos incaracterísticos de bronze e ferro.
Pau-Preto
Além destas contas, recolheram-se, também, 20 fragmentos de material em bruto e lascas, no Compartimento – IV, e 17, na Torre de Menagem.
Nesta campanha, recolheram-se 5 projécteis de arenito, 4 na Torre de Menagem e 1 no Compartimento – IV, cujos diâmetro variam entre 2 e os
Jorge António
1 comentário:
I would like to see the castle fully restored
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